1991. Vem ao mundo minha primeira filha - Carolina e alguns meses mais tarde eu ouço falar pela primeira vez dessa Síndrome.
Algumas vezes percebi o flexionar da cabeça pra frente e achei que poderia haver algum problema, mesmo que a pediatra me dissesse todos os meses que estava tudo bem, levantei o caso com ela que me orientou a procurar um neurologista. Após um exame de reflexos no consultório ele solicitou um eletroencefalograma. Fui fazer por orientação da minha irmã em um hospital especializado em doenças neurológicas o Instituto Fernandes Figueiras - durante o exame a enfermeira chama o médico com urgência e já começo a me preocupar. Ele chega, olha o exame e me leva até sua sala caminhando apressadamente pelos corredores enquanto eu o ouvia, com minha pequena menina no colo, ele ia me dando o diagnóstico avassalador - "Síndrome de West é uma epilepsia em alto grau que leva ao retardo total mental e motor - sem cura."
Ele queria interna-la e me solicitou uma série de exames para que pudessem fazer a aplicação do ACTH - quando perguntei quais os efeitos colaterais dessa droga a resposta foi: "É melhor você não saber mãe." Como assim????
Bem, não sou uma pessoa que aceita as coisas sem questionamentos. Infelizmente não existia ainda internet no Brasil naquela época e foi muito difícil encontrar informações sobre a doença. Nem mesmo a pediatra conhecia... Eu fui em diversas bibliotecas e tudo o que consegui só me fazia entender menos - nenhuma das causas conhecidas era a causa da Síndrome na Carol, é uma síndrome rara e que tem maior incidência em meninos - e a Carol era uma menina, é claro! O que eu lia nos livros era terrível e totalmente diferente da nossa realidade até aquele momento.
Depois daquela fase inicial que a maioria das mães passas de "Por que comigo?", fui para a fase da aceitação e busca das soluções.
É uma história muito longa, foram 21 anos de muita luta, muitos amigos ajudando, muito amor, muitos desafios, muitas surpresas boas, muita música, muito trabalho, muitos risos e muito choro...
Minha filha era muito alegre e sou feliz em dizer que não vivemos a sentença que aquele e outros médicos que conhecemos nos deu - Carolina tinha uma deficiência mental? Tinha sim - mas não era total, ela entendia e era entendida, ela viveu - não vegetou... Fisicamente ela andava, dançava, pulava, comia, até aprendeu a andar à cavalo.
Viveu uma vida cheia de experiências e de amor. O quanto era para ela viver.
Ela voltou para o céu, minha estrelinha, minha anja. Não pela doença em si, mas pelo reflexo dela - pegamos H1N1 e ela não resistiu. Muitos anos tomando muitos remédios e sua resistência não foi a que era necessária, além de que os médicos não acreditavam que era H1N1 e o resultado do exame só veio depois do falecimento.
Mas acredito que tudo o que vivemos tem um motivo. Acredito que todos temos uma missão na vida. A dela foi me preparar mais ainda para a minha. Ela me fez mais forte - porque eu precisava ser. Ela me fez paciente - porque não tem como não ter paciência nessas situações e acredito que essa é uma qualidade extremamente importante para toda a nossa vida, rss
E uma coisa mais que tudo eu aprendi com ela - Você não pode dar o que não tem - Queremos dar amor aos nossos filhos - mas muitas vezes não "nos" amamos, queremos respeitar os nossos filhos - mas muitas vezes não "nos" respeitamos. Queremos cuidar dos nossos filhos e na grande maioria das vezes - não "nos" cuidamos.
Então a mensagem que quero deixar hoje, no dia de conscientização dessa Síndrome é: Ame-se! Respeite-se! Cuide-se!!! Você vai precisar disso para enfrentar essa batalha. A Síndrome de West não é uma síndrome fácil de se viver, mas dá pra ser feliz e deixar seu filho viver a felicidade mesmo assim. Lembre-se que antes de tudo (das dificuldades, das limitações) ali dentro tem um ser que quer viver e que veio com todo o amor viver ao seu lado.
Vença a dor, vença a culpa, vença os prognósticos...
É diário... cada dia é um dia, cada vitória deve ser celebrada, tudo o que você quer fazer na sua vida deve fazer - não pare a sua vida, não se esqueça de você, não esqueça de seus outros filhos...